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Carta aberta de um incendiário torna-se viral

Meu nome é Pedro, ou talvez não. No meu “ramo”, a identidade é um segredo bem guardado. Há dez anos, meu trabalho é o mesmo: atear fogo a Portugal, verão após verão. Não é uma paixão por destruição, mas sim um negócio. Sou um profissional e faço o que meus clientes pedem e, claro, pagam.

E quem são esses clientes? Grandes empresas de madeiras e celulose, que se beneficiam do rápido crescimento do eucalipto; empresas de reflorestamento, que lucram com fundos europeus; construtoras, que precisam de terrenos para novos projetos; e até mesmo seguradoras, que aproveitam o fogo para acionar indenizações. O próprio sistema de combate a incêndios, com seus contratos milionários e horas extras, também faz parte do ciclo.

A lógica é cruelmente simples: queima-se hoje, planta-se amanhã, fatura-se depois. Enquanto todos discutem se a causa foi um raio, uma faísca ou o vento, o dinheiro já mudou de mãos. O único resultado é que a floresta, as aldeias e as pessoas que vivem da terra perdem, enquanto os lucros se acumulam.

Se querem saber o que me faria parar, a resposta é simples: cortem o lucro de quem me contrata. Se a floresta fosse mais rentável em pé do que em cinzas, meu trabalho não teria razão de existir. Precisamos investir em árvores de valor comercial e resistentes ao fogo, em produtos como frutos secos e cogumelos, em cooperativas locais e no turismo rural.

Enquanto o fogo der mais dinheiro do que a sombra das árvores, meu “serviço” continuará a ser procurado. Posso ter acendido o fósforo, mas não fui eu que criei o negócio.

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